terça-feira, 13 de maio de 2008

Ingrid Betancourt

Com certeza um dos grandes nomes do feminismo do séc. XXI, é uma mulher que ousou acreditar na idéia de que seu país poderia se tornar bem mais do que um simples reduto de narcotraficantes. Lutou para mudar esta realidade, mesmo sabendo que a luta seria desigual e injusta.
Ingrid, se quisesse, poderia ser mais uma cidadã francesa e nunca ter assumido seu lado, cidadã colombina. Afinal, nasceu em uma família abastada, seu pai um ex-Senador e Embaixador da Unesco na França, para onde transferiu sua família. Ingrid viveu a maior parte do seu tempo lá. Estudou as melhores escolas e formou-se em Ciências Políticas. Conviveu com Pablo Neruda e Gabriel Garcia Márquez, entre outros grande nomes da cena cultural mundial que freqüentavam sua casa. Então, porque sair da França e ir para a América Latina, o terceiro mundo ?
Por ideal, talvez. Ideais de paz, de um mundo melhor, de eliminar as desigualdades sociais e econômicas, de acabar com o narcotráfico e com a corrupção no governo. E porque não fez isso desde a França? Seu idealismo a fez volta à Colômbia. Acreditava que seu país necessitava muito mais dela do que a França. Ingrid retorna a Colômbia com um propósito, lutar pelo seu povo.
Foi eleita deputada em 1994. Durante a campanha distribui preservativos com a frase "um preservativo contra a corrupção". Em 1996 sofre o primeiro atentado e um aviso da militância da FARC. Ele entra em seu gabinete exigindo que deixe a Colômbia, que parta com sua família enquanto é tempo. Ingrid não se deixou abater, embora sabendo que os narcotraficantes controlavam boa parte do governo, dos senadores e deputados, continuou lutando.
Obrigada a mandar seus filhos a outro país para fugir da mira dos narcotraficantes, ela continua seu caminho na Colômbia. Pois é justamente os filhos, e não somente os seus mas os de todas as mães da Colômbia, que tem seus filhos ainda pequenos recrutados a força pelas FARC. Muitas vezes, simplesmente, por ser a única forma de sobrevivência naquela região.
Em 1998, funda o partido Oxigênio, em que agregou a luta pela causa ambiental e a sua incansável bandeira pelo fim do narcotráfico e da corrupção. Neste mesmo ano é eleita Senadora, com o maior número de votos da história da Colômbia.
Ingrid assume, então, o nada honroso primeiro lugar de alvo das Forças Armadas Revolucionários, também conhecida como FARC, que não tem nada de idéias revolucionários, apenas é um grupo armado, muito bem armado que pensa única e exclusivamente no seu lucro com a comercialização de drogas. Sabendo desta realidade e do poder que os líderes desta organização tinham sobre o governo, escreve o livro - "La Rage au Coeur" (Raiva no coração)-, que fui publicado na França, onde conta principalmente a relação deste poder sobre antigo presidente Sander e o que esta dominação das FARC estava fazendo com a Colômbia. No Brasil o livro foi publicado com o nome de Coraçao Enfurecido.
Em 2001, Ingrid se candidata a presidência, e em fevereiro de 2002 é seqüestrada pela FARC, próximo a San Vicente Del Caguán, nesta região estavam sendo realizadas negociações de paz com as FARC, o governo rompeu estas negociações e reocupou a vila e suas imediações, dando origem a mais um conflito. O então presidente Andrés Pastrana viajou ao local de avião, sendo que Ingrid solicitou autorização para acompanha-lo o que é negado. Obstinada, Ingrid vai por terra, juntamente com sua assessora Clara Rojas. É raptada, e desde então vive sob o poder das FARC na mata tropical da Colômbia.

Tanto seus inimigos políticos, quanto os narcotraficantes, acharam que pudessem imobilizar os pensamentos de Ingrid, pelo contrário, estes ecoaram ainda mais longe, fazendo com que pela imprensa internacional e pelos grupos espalhados pelo mundo engajados na libertação de Ingrid, a realidade da Colômbia viesse à tona.
Ingrid não só lutou, como continua lutando mesmo em cativeiro, não só pela Colômbia, mas por todos que acabam recebendo as drogas comercializadas pela FARC. Então, não é uma luta só pelo idealismo de ver uma Colômbia livre da corrupção e dos traficantes, é uma luta para ver o mundo livre das drogas e da degradação que elas causam à sociedade.
Em 2008, foi pedida prova de vida de Ingrid. Em 12 folhas, Ingrid redigiu uma carta a sua mãe e seus filhos que deram origem ao livro – Cartas a mãe – Direto do Inferno , onde consta a carta de Ingrid e a resposta de seus filhos Melanie e Lorenzo. "Mamita, este é um momento muito duro para mim. De repente, exigem provas de vida, e eu escrevo com a alma esparramada sobre este papel", desabafa.
Com toda a força que sempre demonstrou Ingrid parece estar esgotada. Cansada de tanta efemeridade“ nada é seu, nada dura, a incerteza e a precariedade são a única constante”, “vivo ou sobrevivo numa rede esticada entre duas estacas, coberta com um mosqueteiro e uma lona que serve de teto e me permite pensar que tenho uma casa”, “Fui, ou tentei ser, forte. Esses seis anos ou quase de cativeiro demonstraram que não sou nem tão resistente, nem tão forte, quanto pensava. Sinto-me vencida", resume.
Mesmo assim, diante da descrença absoluta de Ingrid de que realmente algum dia seja libertada, sua mãe a ex-miss Colômbia e ex- deputada Yolanda Pulecio, fala para a filha todo dia ás 5 da manhã por uma rádio local, incentivando-a a se alimentar, dormir, a se cuidar e acreditar sempre na sua libertação. Seus filhos, Melanie e Lorenzo, seu ex-marido Fabrice Delloye e o atual Juam Carlos Lecompe, se empenharam durante estes anos todos pela sua libertação, pressionando os governos da França e Colômbia, a entrarem em entendimento com as FARC para a libertação de Ingrid.
Ingrid, está nesta condição agora, sofrendo todas as privações e a maior de todas a sua: liberdade, porque acreditou que é possível a existência de um mundo melhor. É possível fazer política e melhorar as condições de vida de uma nação. É possível ter coragem e enfrentar seus opositores mesmo que isso ponha em risco sua vida.
Mesmo que estes de 6 anos de seqüestro tenham feito Ingrid calar, com certeza seus ideais serão resgatados, sempre haverá alguém com coragem suficiente para enfrentar os narcotraficantes na Colômbia ou em qualquer lugar do mundo, onde pessoas se utilizam da palavra revolução para fins de cultivar e comercializar drogas e corromper as estruturas de governo criando desigualdade sociais e econômicas marcantes.
Atualmente, foi divulgado por um médico pertencente as FARC, preso pela policia colombiana, que o estado de saúde de Ingrid é grave e precário, ela esta com malária, hepatite e leishmaniose e na selva não há como realizar o tratamento adequado destas doenças.
A urgência pelo entendimento do Presidente Colombiano com a líder das FARC para a libertação de Ingrid deve ser imediato. Grupos de apoio estão sendo mobilizados pela libertação dela em vários países e aqui, no Rio Grande do Sul, foi criado o Comitê Pró – Libertação, que pode ser acessado pela internet no seguinte endereço http://libertacaoingridbetancourt.blogspot.com/

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